O geólogo pirajuense Vinícius Tieppo Meira, professor do Instituto de Geociências da Unicamp, analisou o registro inédito da movimentação de uma placa tectônica no fundo do Oceano Pacífico Norte, na costa da ilha de Vancouver, no Canadá. As imagens mostram, pela primeira vez, um processo de ruptura que ocorre há cerca de 4 milhões de anos e geraram uma publicação na revista Science Advances,descoberta assinada pelo pesquisador Brandon Chuck, da Universidade Estadual de Louisiana.
Meira explicou que o flagrante confirma um movimento de subducção, região onde as placas descem sob a placa norte-americana e podem gerar vulcões, terremotos e tsunamis. “O flagrante da movimentação de uma placa tectônica no fundo do Oceano Pacífico Norte, na costa da ilha de Vancouver, no Canadá, foi o primeiro registro, em imagens, de um processo de ruptura que está em curso há cerca de 4 milhões de anos”, afirmou.
O professor destacou que não há motivo para temor imediato. “O mais importante é o fato de as imagens confirmarem estudos e pesquisas que até então eram baseados em outros tipos de evidências científicas.”
Meira comentou a dificuldade de visualizar processos geológicos dessa escala. “É muito difícil de visualizar essas coisas, porque todos os dados que a gente tem são dados indiretos, que são as rochas, e a gente usa elas como um livro, tentando desvendar como elas se formaram e como isso se encaixa numa dança dos continentes, numa organização e mudança dessas placas tectônicas. A gente fica bastante empolgado com um estudo desse, porque a gente está vendo as coisas acontecerem.”
Ele ressaltou que o fenômeno não indica aumento de perigo imediato. “Todos aqueles processos que podem nos afetar, como os sismos, os terremotos — que são nomes usados para o mesmo fenômeno — ou os maremotos, estão vinculados a essas zonas onde tem bastante atividade tectônica. Então, esse fato específico não aumenta nem diminui a periculosidade dessa zona tectonicamente ativa.”
Segundo o professor, essa região do Canadá está inserida no chamado Círculo de Fogo do Pacífico. “Em toda a zona do Círculo de Fogo, onde essa parte do Canadá está inserida, existem esses processos em toda a borda do Oceano Pacífico, processos que a gente chama de subducção. Então, as placas estão descendo por debaixo das outras.”
Meira também mencionou outras áreas que podem indicar transformações futuras. “Tem zonas ali, principalmente entre a África e a Península Ibérica, que têm umas zonas tectonicamente um pouco mais ativas. Não está no limite de placa ainda, mas imagina-se que ali pode ser um local que possa virar um limite de placa.”
O professor comentou a evolução tectônica do Atlântico. “O Atlântico já está ficando velhinho, o Oceano já está ficando velhinho, isso quer dizer que as rochas do fundo oceânico, a litosfera ali, nas bordas dos continentes já está ficando velhinha o suficiente para querer sublutar. A gente já vê algumas feições sísmicas nessa região que eu falei, perto do Estreito de Gibraltar, inclusive que foi o epicentro de um terremoto histórico, importante até para a história da ciência sismológica, que foi um sismo de 1755, lá em Lisboa, que foi super devastador, tanto o sismo quanto o tsunami que veio depois. E imagina-se, coloca-se esse sismo específico como o nascimento da sismologia moderna.”
Para Meira, o Brasil está em posição segura. “O Brasil está num lugar privilegiado, e a gente está bem no meio da placa. Então, a placa tectônica é a placa sul-americana.”
O professor encerrou lembrando que a escala do tempo geológico é muito maior do que a humana. “Quatro bilhões e meio de anos sem a gente, né? A gente é só poucos segundos da história toda. A gente está participando disso aqui há muito pouco tempo. Mas a gente tem uma influência principalmente na superfície grande, né? A gente está muito pouco, mas a gente causa bastante dano. A influência do aquecimento global é muito mais importante para quem vive na superfície da Terra do que para o interior da Terra.”