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LENA & LEDA por Carlinhos Barreiros /Especial Amigos

Postado à, 242 dias atrás | 5 minutos de leitura

LENA  & LEDA  por  Carlinhos Barreiros /Especial Amigos
Duas amigas queridas partiram recentemente de maneira um tanto abrupta, deixando inconsoláveis e à deriva os muitos parentes e amigos que delas se despediram com pesar. 
Refiro-me às saudosas Lena Lopes (Maria Helena Lopes) e Leda Clemente (Alma Leda Anibal Clemente), que no curto espaço de menos de dez dias tornaram, com suas partidas, muita gente inconsolável. 
LENA - Com um eterno sorriso a bailar nos lábios e uma disposição ímpar de enfrentar as adversidades, Lena Lopes encantava com seu jeitinho especial e sua gentileza. Sempre agradável, destacava-se da maioria selvagem por interessar-se, genuinamente, pelos problemas de seus amigos. Sempre indagava da minha vida, amores ou interesses. Trocávamos boas risadas, quando era a ocasião, com as armadilhas ou surpresas agradáveis (ou desagradáveis) que a Vida nos reserva sem aviso. Carnavalesca de carteirinha, era atuante na ESUBA (Escola de Samba Unidos do Bairro Alto), o “Leão do Morro”, agremiação carnavalesca que fazia parte de sua personalidade e de seu coração gentil. No começo, quando a escola ainda engatinhava, saía na avenida tomando conta das alas, geralmente a das crianças. Na vida prática, em cima de sua motinha, era destemida: trabalhou por um tempo para um serviço de cobranças e ainda achava tempo para cuidar do pai velhinho, o ilustre Salumínio. 
Soube há algum tempo que estava doente. “Gordura no fígado”, disse-me alguém. “Cirrose”, sentenciou outro (a). Na verdade, Lena nunca superou a morte de seu grande amor, a doce Tânia, de olhos límpidos da cor do céu, com quem viveu por mais de dez anos. Ficou muito triste depois disso. Vivia inconsolável e fazia questão de expressar tais sentimentos nas mídias sociais. Vivia com Tânia na cabeça, junto com suas cachorras queridas e também mortas.
Soube que uma hemorragia – decorrente de hepatite – a levou. Levou no plano físico, é claro. Em nossos corações e mentes, Lena vive. Agora mais aguerrida e alegre, enfim junto com Tânia e as cachorras.
LEDA - De Leda Anibal muito tenho a falar e pouco espaço para escrever. Mulher única de caráter e personalidade, trabalhadora e desinteressada das coisas mundanas, pouco se deixava ver, nos últimos anos, encastelada no seu armazém ao lado do Peixe, que herdou do falecido marido, o “Sapão”. Então era a Leda no Bar do Sapão por muitos anos e assim se fez e se cumpriu. 
Vizinhei com Leda ali, perto do Ginásio de Esportes, onde morei por vinte anos. Primeiro ela morava ao lado do Ginásio e depois bem em frente. Era famosa à época, ela e sua irmã, minha amiga Maria Tereza, por fazerem objetos de decoração baseados em biscuit. Vinha gente das plagas mais distantes comprar os bonequinhos de biscuit da Leda. Célebre, pelo capricho e bom gosto que imprimia às peças. Mas nem só de biscuit vivia Leda, que transformava em boniteza tudo que tocava. Muitas outras expressões de trabalhos manuais passaram por suas mãos talentosas, angariando-lhe fama e uma reputação ótima no ramo.  
Viúva, foi tocar o armazém que o falecido lhe deixara, ali, ao lado do Peixe, na entrada de Piraju, como já falei antes. Recolheu-se. Quem quisesse ver a Leda, tinha que ir lá. Divertida e desbocada, avessa às convenções e boa praça, quando engatava numa prosa boa era duro de largar. Maravilha ouvir suas histórias engraçadas e o jeito ímpar de contá-las. Partilhei um Natal com ela na casa de sua irmã, onde boas risadas e papo de primeira ofuscaram as iguarias de uma mesa farta.
Soube à tarde que ela estava no hospital e de noite já estava morta, numa sucessão galopante de eventos trágicos. Restaram as memórias e recordações de uma Leda magrinha e sempre falante, detalhando a todos que quisessem ouvir sua versão particular do mundo, este mesmo mundo que a tomou cedo demais. 
Grande Leda! Que falta vai fazer!