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90 anos de Elza Soares, a mulher do fim do mundo, por Luiz Rocha

Postado à, 1347 dias atrás | 4 minutos de leitura

90 anos de Elza Soares, a mulher do fim do mundo, por Luiz Rocha
Da infância carregando latas d’água na cabeça, até o merecido posto de Cantora do Milênio (de acordo com a BBC de Londres), Elza Soares sobreviveu à fome, à violência e ao preconceito, se tornando um dos maiores exemplos de resiliência, superação e perseverança que se pode ter. Com 90 anos completos no mês de junho deste ano, a cantora está em plena atividade, sendo uma das principais vozes na luta contra o machismo e o racismo. 
Foi forçada a se casar aos 11 anos, tornou-se mãe as 12, perdeu seu segundo filho aos 15 (a criança morreu de fome), e tornou-se viúva aos 21 anos. Com quatro filhos para criar, Elza trabalhava como faxineira, mas ainda mantinha o sonho de cantar profissionalmente. Em meados de 1953, se inscreveu no famoso programa de rádio Calouros em Desfile, apresentado por Ary Barroso. Ao subir no palco, foi ridicularizada pelo auditório e por Ary, que lhe perguntou:
“De que planeta você veio, minha filha?”
E Elza respondeu:
“Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta fome.”
E após isso, começou a cantar Lama, de Paulo Marques e Aylce Chaves. Naquele momento, o Brasil conhecia uma de suas maiores personalidades em todos os tempos. A consagração veio em 1960, com o lançamento de seu primeiro disco, intitulado “Se Acaso Você Chegasse”;
Um dos períodos mais marcantes na vida de Elza foi o romance e casamento com o jogador de futebol Mané Garrincha, na década de 60. Em 1969, Elza perdeu sua mãe num acidente de carro, em que Garrincha dirigia alcoolizado. O casal viveu junto até 1982, quando se divorciaram devido ao alcoolismo e frequentes abusos e agressões por parte do jogador. O único filho proveniente da união, apelidado Garrinchinha, veio a falecer em 1986, aos 9 anos de idade, vítima de mais um acidente de carro. Na ocasião, era Elza quem dirigia o veículo. Após isso, a cantora entrou em depressão profunda, e cogitou desistir da carreira, e até mesmo tentou suicídio. 
Apesar dos períodos de altos e baixos, Elza sempre superou as dificuldades, e diz que única coisa do passado que ainda a machuca é a perda de seus filhos. Nos últimos cinco anos, a cantora lançou três álbuns: A mulher do fim do mundo (2015); Deus é mulher (2018) e Planeta fome (2019), sendo os dois primeiros, vencedor e indicado, respectivamente, ao Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB. Além dos álbuns, Elza lança singles frequentemente em seu canal no Youtube, muitas vezes em parceria com jovens artistas. 
Em tempo de pandemia, no qual o isolamento social se faz necessário, a violência doméstica contra a mulher aumentou. Acontecimentos como o assassinato de George Floyd, mostram que o racismo é presente. Não são apenas 90 anos completos de Elzinha. São 90 anos em que a mulher brasileira e a negritude estão bem representadas, por uma figura que utiliza sua voz única não só para encantar, mas para lutar em prol de causas importantíssimas.