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"Quem pariu Matheus que o embale" e como falhamos como sociedade na criação e defesa das crianças

Postado à, 352 dias atrás | 6 minutos de leitura

"Quem pariu Matheus que o embale" e como falhamos como sociedade na criação e defesa das crianças
 Artigo da Psicóloga Gabriela Leal que será nossa colaboradora semanal
A violência contra crianças nunca foi novidade e sempre esteve presente, mais próxima do que imaginamos e gostaríamos. 
Quando eu estava no Ensino Médio, me lembro bem de uma garota mais nova do que eu, assassinada em nossa cidade enquanto brincava na casa de uma colega de escola e eu pensei por um bom tempo enquanto encarava em silêncio o armário escolar dela, vazio: quem estava lá para protegê-la? 
Anos depois, a Netflix produziu uma série documental chamada "O Caso de Gabriel Fernandez", obra a qual expôs de forma crua a tortura que Gabriel, um menino de 8 anos, foi submetido por quem deveria ser responsável por ele. 
Nessa época, a crueldade do caso foi tanta que dói lembrar até hoje. A frase "Quem pariu Matheus que o embale" sempre me chamou a atenção. Seria a mãe, ou a família, seja ela como for (avós, tios, uma mãe solteira) a única responsável pela criação de um filho? Como diz o ditado, apenas quem deu à luz a Matheus enfrenta sozinha os choros da madrugada? 
É com esse pensamento que abusadores se sentem no direito de violentarem seres vulneráveis de tenra idade, porque a primeira violência vem do núcleo familiar. Nós naturalizamos a cultura de agressão como educação para crianças. Nós as punimos com tapas e castigos, impomos respeito através do medo porque nós não conseguimos lidar com a nossa própria falta de regulação emocional e cedemos à raiva. 
A infância é um período o qual é essencial que as coisas ocorram bem para o desenvolvimento posterior sadio. Adultos frustrados foram crianças cujo choro e pedido de ajuda foi negligenciado. Os primeiros anos de vida são permeados por fragilidades como bullying, falta de recurso financeiro que faz o aluno frequentar a aula para ter a única refeição do dia, e exposição precoce à sexualidade ou abusos sexuais. 
Nas últimas semanas de abril de 2023, casos notórios trouxeram à tona a sensação que falhamos como sociedade. O ataque em Blumenau foi uma crise da nossa fé porque a verdade é que os nossos bens mais valiosos não estão em cofres, estão na escola. Nós falhamos porque não nos atentamos aos sinais. Nós pais, amigos, professores, tios, avós, todo mundo. É nosso dever como cidadãos entender que as vítimas têm nomes, sonhos, e não são apenas uma estatística. 
Assim como Yasmim, uma pré-adolescente de 13 anos, morta ao ser espancada pelo padrasto no fatídico dia 09 de abril de 2023 em Sarutaiá. Eu não tenho palavras para expressar o pesar por tamanha crueldade. Porém direi mesmo assim, pois o processo de violência de menores é silencioso, mas não precisa ser silenciado. Alguém tem que oferecer uma voz para Yasmim, porque quando ela falou, ninguém escutou. É necessária uma aldeia para criar um filho, e infelizmente, o seu perpetrador não olhou para as suas mãozinhas e pensou quão pequena ela deveria ser e o quanto faltava para que ela pudesse ver as coisas como nós adultos vemos. E ela certamente não entendeu o porquê quem deveria cuidar dela, causou sua morte.
Quando uma criança não quer ir para a casa do pai, da mãe, do avô, escute. Quando ela parece quieta demais, escute. Se ela está faltando demais da aula ou o desempenho escolar caiu, investigue. Há um conjunto de sinais que podem ser observados como mudança brusca de comportamento que predizem as tragédias. Vamos ajudar as nossas crianças a sobreviver. 
-Yasmim, eu sinto muito por termos falhado com você. 
 
Assista o vídeo da entrevista e live de Gabriela no Instagram da Folha de Piraju nesta terça-feira.
Segue o link, só clicar e assistir a entrevista
 
 
A FolhadePiraju entrevistou Gabriela Leal nessa live e ela nos falou sobre o tema abuso sexual e agressão a crianças e adolescentes. Ela aborda vários aspectos dessas situações e semanalmente vai estar aqui no nosso Instagram a partir das 9h30 da manhã todas as terças-feiras com uma live/entrevista sobre outros temas. Recebemos aqui perguntas e sugestões de pautas.
Dra. Gabriela Leal atende na rua Rio Grande do Norte 1001 em Manduri, próximo ao supermercado Tani e agenda pelo zap 14-996232702
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@psicominhamente