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Menos reativos, vamos contemplar com bondade quem recolhe o nosso lixo

Postado à, 1017 dias atrás | 5 minutos de leitura

Menos reativos, vamos contemplar com bondade quem recolhe o nosso lixo
Da Redação/ Maria Ângela Ramos
À noitinha recebemos aqui na Folha uma foto e uma reclamação. Aí contemplando a cena pensamos: vamos valorizar o trabalho dos
funcionários da limpeza pública em vez de só criticar. 
Reclamação de que os garis colocam (o termo foi amontoam) lixo no meio da rua para pegar depois. A reclamação foi de um motorista que reside em outro bairro, mas precisou trafegar por aquele local. 
Vemos isso acontecer em alguns pontos da cidade, porém há que se ter compreensão de que o trabalho dos funcionários da limpeza pública é bastante insalubre e que essa talvez seja a forma que encontraram de agilizar o serviço. 
Talvez deixar numa esquina seria mais adequado, como fazem em outras áreas da cidade. Mas não vamos criticar o trabalho, de quem em tempos de pandemia tem atuado nos bastidores sem trégua, e com muita organização e boa vontade. 
Nós, muitas vezes, mal separamos o nosso lixo, só colocamos os sacos no portão, na lixeira ou na rua e não pensamos mais no assunto. Enquanto eles trabalham para nós nesses dias frios estamos sossegados e confortáveis dentro de nossas residências.
Vamos fazer um exercício e imaginar quem são essas pessoas anônimas que chegam e levam nosso lixo ? Incansáveis, trabalhando em horários adversos, que tal lembrar que eles têm família como todos nós, ganham menos do que merecem porque é inegável vivemos numa sociedade desigual, e então seguir dando um desconto nas críticas sem querer tudo perfeito ?
Com certeza esses valorosos profissionais acharão um local fora do meio da rua para colocar os pacotes do "nosso lixo" das outras vezes e vai ficar tudo bem. 
Vamos ser mais tolerantes com quem nos serve dignamente diariamente mesmo na pandemia. 
Queremos ser felizes, nos livrar do lixo e eles, mesmo fazendo esse serviço visto até com descaso e indiferença, extamente como nós, também querem ser felizes. 
Vamos aspirar que possam fazer seu trabalho com tranquilidade, não vamos exigir deles o que quase nunca exigimos de nós e dos mais próximos, e valorizar esse pessoal que batalha tanto para ganhar seu pão.  
Ouvi esta semana uma prece que terminava dizendo assim: "que eu possa ser um  navio para aqueles que têm oceanos a cruzar, uma ponte para os que têm rios para atravessar, e um servo para todos que precisam".
 
Vou transcrevê-la aqui para vocês no trecho que me enviaram e foi composta no século VIII por Shantideva:
"que eu me torne em todos os momentos, agora e para sempre um protetor para os sem proteção. Um guia para aqueles que perderam o seu caminho, um navio para os que têm oceanos a cruzar, uma ponte para os que têm rios a atravessar, um santuário para aqueles em perigo, uma lâmpada para aqueles sem luz, um lugar de refúgio para aqueles que não têm abrigo e um servo para todos que precisam."
E nos parece que oito séculos antes Jesus de Nazaré pregava a tolerância e tratava a todos com bondade e compaixão. 
Tudo isso para dizer que estamos hoje sendo chamados a uma comunicação não violenta e a sermos menos reativos. 
Todos nós individualmente e coletivamente. Já não bastam as tantas mortes e situações de intolerância que temos testemunhado por parte de quem deveria ser exemplo.
O caso dos servidores da limpeza pública nos ajuda a refletir sobre como podemos começar uma mudança revolucionária na nossa cidade a partir de pequenas reações, liberando nossa mente e evitando picuinhas desnecessárias por tão pouco. Essa lição de casa fica aqui para todos, incluindo a mim, principalmente.
Não será fácil, mas é possível começar imediatamente, com boa vontade e motivação correta.