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Maio laranja: Violência infantojuvenil: Hospital atende 652 casos em um ano

Postado à, 354 dias atrás | 8 minutos de leitura

Maio  laranja: Violência infantojuvenil: Hospital atende 652 casos em um ano
Crédito Foto Capa: Wynitow Butenas
 
 
Trazida pela mãe, uma menina de menos de 6 anos de idade chega à unidade de pronto-atendimento pediátrica por conta de suspeita de estupro. A narrativa infelizmente é comum no maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, o Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). Todos os anos, a instituição recebe crianças e adolescentes vítimas de vários tipos de violência: sexual, física, psicológica, negligência ou autolesão. Em 2022, foram 652 atendimentos -- um crescimento de 5,5% em relação aos dados de 2021. A criança mais nova atendida por negligência foi um bebê de apenas 17 dias.
Os números no maior hospital exclusivamente pediátrico do país são um reflexo da realidade brasileira. Quase 35 mil crianças e adolescentes foram mortos de forma violenta entre 2016 e 2020, sendo que o número anual em relação às crianças com idade entre 0 e 4 anos aumentou 27%. Os dados são do Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, organizado pelo UNICEF e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que apontam também a média de 7 mil mortes e 45 mil estupros por ano nessa faixa etária. (clique no trecho em itálico e veja o relatório)
 
“Historicamente, em cerca de 80% dos casos de violência, o agressor é alguém do próprio núcleo familiar ou conhecido da família. Ele, normalmente, se aproveita dos vínculos de confiança estabelecidos com a vítima, além do conhecimento da rotina e dos hábitos, para praticar a violência e ficar mais distante da suspeita de tal ato pelos responsáveis. Por isso, é importante observar mudanças no comportamento da criança e adolescente”, analisa a psicóloga Daniela Prestes, do Pequeno Príncipe.
A pouca idade das crianças atendidas no Hospital é um dos dados alarmantes de 2022: 63% delas estavam na primeira infância, ou seja, tinham até 6 anos. Nos casos de violência sexual, que mais uma vez foi a predominante, com 375 dos atendimentos realizados, 69% das vítimas estavam nessa mesma faixa etária. Outro dado que se repetiu em relação a esse tipo de violência é o sexo da criança. A maioria era menina: 79% do total. Além disso, o lugar onde as vítimas mais sofrem o abuso sexual é dentro da própria casa. Entre os casos registrados em 2022, 185 aconteceram na residência da vítima. Ainda em relação à violência sexual, mais de 90% dos agressores eram do sexo masculino, e o pai era apontado como o principal suspeito.
 
Em segundo lugar nesse trágico ranking está a negligência, quando a atitude de pais ou responsáveis expõe a criança ou adolescente a algum risco. Foram atendidos no Pequeno Príncipe, no ano passado, 130 casos envolvendo esse tipo de violação a direitos básicos do público infantojuvenil. Em situações extremas, quando o risco à vida de uma criança ou adolescente é evidente, o último recurso utilizado para protegê-los é o encaminhamento para abrigamento. Pela primeira vez, o Hospital Pequeno Príncipe registrou cinco solicitações desse gênero. Um triste recorde.
Impacto na primeira infância
Segundo o Comitê das Nações Unidas sobre o Direito da Criança, os primeiros anos de vida são a base para o desenvolvimento de uma pessoa, e o estresse na primeira infância, incluindo a exposição à violência, coloca em risco a saúde e a educação dela. Essas situações trazem consequências mentais e fisiológicas negativas em longo prazo e podem causar mudanças permanentes no cérebro. A aquisição da linguagem, o funcionamento cognitivo e o autocontrole podem ser afetados, por exemplo. Além disso, também pela pouca idade, a criança não consegue identificar o que é violência, defender-se dessas situações ou pedir ajuda, pela pouca maturidade e discernimento.
 
Importância da denúncia
 
Estar atento aos sinais da negligência e das violências sexual, física e psicológica é fundamental para a proteção das crianças e dos adolescentes. Entre eles estão choro excessivo; hematomas em várias partes do corpo e de diferentes colorações; fraturas próximas das articulações, em costelas ou de crânio; desnutrição; aspecto de má higiene; excesso ou falta de apetite; medo exagerado; agressividade e irritação.
 
A denúncia, com possibilidade ser anônima, pode ser a única chance para muitas crianças e adolescentes serem salvos. De qualquer lugar do Brasil é possível ligar para Disque 100 e relatar qualquer suspeita. A ligação é gratuita. "Muita gente acha que os pais são 'donos' da criança. 
Mas isso não é verdade. É responsabilidade de toda a sociedade proteger essas crianças e adolescentes", lembra a psicóloga.
 
As crianças precisam da sua atenção! Violência não!
 
Desde 2006, o Pequeno Príncipe promove a Campanha Pra Toda Vida -- A Violência não Pode Marcar o Futuro das Crianças, para dar visibilidade às ações de combate à violência promovidas na instituição. Por meio de manuais e palestras educativas voltadas a profissionais de saúde e da educação, livros sobre autoproteção direcionados ao público infantojuvenil, e mobilização da comunidade por meio de vídeos, posts em redes sociais, divulgação na imprensa e apoio de influenciadores digitais desde 2019, a campanha busca dar destaque ao tema, seja ajudando os profissionais a identificar os sinais de violência, seja incentivando as pessoas a fazer denúncias.

 
 
Sinais para a violência infantojuvenil
– Excesso ou falta de apetite.
– Recusa ou dificuldade para dormir.
– Descuido com a própria higiene.
– Desinteresse para atividades de que antes gostava.
– Hematomas pelo corpo e/ou fraturas nas articulações, costelas ou crânio.
– Choro excessivo sem motivo aparente.
– Medo exagerado, agressividade e/ou irritação.
 
Atendimentos do Hospital Pequeno Príncipe ao longo dos anos
Confira, no vídeo a seguir, mais dados estatísticos sobre a violência infantojuvenil: