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FAXINETES OU ESCRAVAS¿? Por Carlinhos Barreiros

Postado à, 486 dias atrás | 6 minutos de leitura

FAXINETES OU ESCRAVAS¿? Por Carlinhos Barreiros
A faxina de casas vem se revelando hoje uma profissão bastante rentável, para senhoras, mulheres de meia idade ou até mocinhas trabalhadeiras. Se esforçadas, podem chegar a tirar, mensalmente, mais de 2 mil reais, livres, cifra nada desprezível nos padrões monetários atuais desse Brasil destroçado pós-Bolsonaro. Conheço algumas delas e daí as historinhas que vão compor esse texto. 
Minha mãe sempre teve faxineira: me lembro bem da última, uma senhora carrancuda de buço cerrado chamada Sinforosa! O problema de minha mãe é que ela sempre trabalhava mais que a própria faxineira. E me ensinou uma verdade indiscutível: a poeira sempre vence, por mais que você segure uma flanelinha na mão. Herdei dela a obsessão pela limpeza e a mania, vejam só, de sempre andar com um trapinho na mão, desafiando a onipresente poeira. Xô! 
Mas as faxineiras, que aqui vou chamar de faxinetes, não vivem num mar de rosas não. Seu ambiente de trabalho, quase sempre capitaneado por senhoras heterossexuais brancas, às vezes pode remeter ao tempo das famigeradas senzalas. Sim, sim, a escravidão pode ter acabado, mas o pensamento escravocrata ainda permanece vivo (até inconsciente - pode ser - coisa que eu duvido) nos gestos e atitudes mesquinhas dessas modernas sinhás-moças de casas com piscinas. 
Algumas não servem nem um mero café ou chá quando as faxinetes chegam cedo para trabalhar. Nem sei se dizem “bom dia”. Outras, se servem alguma coisa, é sempre na mesa ao lado. A maioria não permite que faxinetes portem bolsas ou sacolas, partindo do princípio que suas colaboradoras são todas ladras. Não sei de nenhum caso de faxinete que teve a bolsa revistada à saída, mas tenho certeza que eles existem. A grande maioria das patroas, que continuarei a chamar de sinhás-moças, costuma extrapolar no âmbito daquilo que as faxinetes devem fazer. Já que as coitadas estão ali, gostam de despejar em cima delas um monte de afazeres extras que nada tem a ver com a contratada faxina. Uma sinhá-moça, outro dia, mandou a faxinete limpar a piscina, decerto para economizar com o piscineiro. Uma outra, com certeza demente obsessiva de toc, exige da faxinete a limpeza do rejunte de ladrilhos ou azulejos com uma escova de dentes, sendo que depois vai procurar por restos de sujeira com uma lupa! Isso em toda área da casa onde houver azulejo ou ladrilho. Madame, assim não há faxinete que aguente! 
A maioria das “patroas” exige tempo integral, esteja a casa limpinha ou não. Tenho duas amigas que vivem praticamente em caixas de fósforos: casinhas modestas de quatro cômodos, que nem precisam de ajuda extra para serem limpas. Pois bem: uma dessas sinhá-moça, vivendo na caixinha de fósforo e tudo, paga faxinete duas vezes por semana! Para limpar o que, exatamente, nem me passa pela cabeça. E ainda fica possessa se a faxinete dá o cano ou chega atrasada. Com certeza assolada por problemas de solidão e autoestima, essa sinhá-moça jogou nos ombros da faxinete a imagem da família que não tem mais. A outra, então, mais obsessiva ainda, morando em outra caixinha de fósforos, exige faxinete das sete da manhã até as seis da tarde num espaço que poderia ser (muito bem) limpo em três horas. Me respondam sinceramente: isso é ter ou não ter ideias escravocratas em pleno século 21? 
Por essas e por outras é que lhes digo, caros leitores: o dia em que as faxinetes se rebelarem, uma nova sociedade nascerá: Liberté, Egualité e Fraternité para todos !
 
• O autor é professor,
jornalista e escritor. Atuou em Piraju nos jornais “Folha de Piraju”,  “observador” e
“Jornal da Cidade” sempre como cronista ou crítico de cinema/literatura.
Publicou o livro de contos “Insânia: O lado Escuro da
Lua” (esgotado). Em 2006 foi o primeiro colocado
no Concurso de Poesias, contos e Crônicas da FAFIP (Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Piraju) com o conto Sade do Sertão. Atualmente, revisa
os originais de seu livro de contos ainda inédito “Freak Show”. Mora em Piraju onde eventualmente contribui com a imprensa local.