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Memórias da Cidade será lançado nesta sexta-feira no Quilombo do Jaó e terá pré-estreia em Itapeva

Postado à, 0 dias atrás | 8 minutos de leitura

Memórias da Cidade será lançado nesta sexta-feira no Quilombo do Jaó e terá pré-estreia em Itapeva

Memórias da Cidade será lançado nesta sexta-feira no Quilombo do Jaó e terá pré-estreia em Itapeva

O documentário “Memórias da Cidade”, dirigido por Adriano Vaz, será lançado nesta sexta-feira, 7 de novembro, às 13h30, na Associação dos Produtores Rurais do Quilombo do Jaó, em Itapeva (SP). A escolha do local é simbólica: o quilombo é herdeiro direto da história contada pelo filme e representa a continuidade das tradições afro-brasileiras e tropeiras que moldaram a região sudoeste paulista.

A produção também terá pré-estreia pública e gratuita no sábado, 8 de novembro, às 19h30, no Teatro de Bolso Terezinha da Silva, em Itapeva.

Vozes e presenças

O documentário reúne depoimentos de pesquisadores e lideranças locais que ajudam a reconstituir a trajetória simbólica e histórica da Fazenda Pilão D’Água, cenário central de Memórias da Cidade.

Entre as pessoas ouvidas, está Deise Lima, uma das lideranças do Quilombo do Jaó, que expressa a força do lugar como memória viva dos antepassados:

“Hoje estar nesse lugar é um momento muito importante, porque desde a hora que eu cheguei aqui eu carrego uma energia aqui dentro, sabe? Esse espaço representa muitas coisas na nossa vida — a ancestralidade, a resistência, a forma como esse espaço ainda resiste. Ele está vivo e traz uma energia positiva, da nossa ancestralidade, que está aqui ainda. Esse espaço ainda está vivo. Não tem como falar da fazenda sem falar do Quilombo do Jaó e não tem como falar do Quilombo sem mencionar a fazenda”

Outra voz fundamental no filme é a da arqueóloga Sílvia Corrêa Marques, que narra o contexto histórico da Fazenda e o papel de Itapeva no ciclo tropeiro:

“Das antigas fazendas tropeiras do início do século XIX, por volta de 1800, 1810, a fazenda insere Itapeva nesse ciclo do tropeirismo que vem lá de Viamão a Sorocaba. Tirar a história da fazenda Pilão D’Água, ou não contar a história da fazenda, fica um vazio desse ciclo econômico que a gente chama de abastecimento do mercado interno entre Viamão e Sorocaba. Ela é peça fundamental, juntamente com a antiga Fazenda São Pedro ou Campos de São Pedro, que deu origem ao município de Itararé. Aliás, tudo era Itapeva até Itararé. Na verdade, a Casa Grande, que é a sede dessa fazenda, representa um ciclo econômico fundamental para entender a história de Itapeva. Durante muito tempo, havia no senso comum esse entendimento de que Itapeva era passagem, que aqui se praticava alguma coisa de agricultura de subsistência, que era um pouso de tropeiro, um local sem relevância econômica. E aí, quando você explica uma casa, uma fazenda como a Pilão D’Água, nesse contexto de subsistência, não faz sentido. A minha primeira preocupação foi entender Itapeva nesse ciclo econômico que a gente descreve como comércio de abastecimento interno. A gente não está falando das cidades ou vilas relacionadas à economia agroexportadora ou à exploração do ouro. Faltava entender a dinâmica de comércio interno, não relacionada à exportação, digamos assim. E aí Itapeva aparece. E aí a fazenda Pilão D’Água faz sentido.”

As falas de Deise Lima e Sílvia Corrêa Marques dão ao documentário uma dimensão rara: a da escuta dos lugares, do tempo e da ancestralidade que permanece viva nas estruturas, nas paisagens e na memória coletiva. Outros personagens também marcaram presença no filme.

Um olhar sobre memória, arte e resistência

Com participação especial da escritora e jornalista Eliana Alves Cruz, vencedora do Prêmio Jabuti, Memórias da Cidade revisita a trajetória da Fazenda Pilão D’Água, patrimônio histórico tombado e um dos últimos testemunhos do ciclo tropeiro no Brasil.

Filmado entre fevereiro e abril de 2025, o documentário propõe uma reflexão sobre o papel da memória na construção do país e lança um alerta sobre o abandono do local, que corre risco de desabamento.

“A Fazenda Pilão D’Água é um patrimônio público que clama por políticas de preservação, restauração e uso educativo. Mais do que documentar o passado, o filme convoca a imprensa, os gestores públicos e a sociedade civil a se unirem pela defesa de um bem que pertence à história viva do Brasil”, explica Adriano Vaz.

Vozes e presenças

O documentário reúne depoimentos de pesquisadores, lideranças comunitárias e representantes da sociedade civil, entre eles o arqueólogo e historiador Sílvio Araújo, a arqueóloga Sílvia Corrêa Marques, as representantes do Quilombo do Jaó Deise Lima e Kemilin Martins, o ex-prefeito Wilmar Matos, a ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Itapeva Isabel Reis e a arquiteta Maria Clara Holtz.

A presença de Eliana Alves Cruz amplia o diálogo do filme com o país ao conectar a história local de Itapeva ao contexto mais amplo da resistência negra no Brasil.

Um filme, uma causa

Para o diretor, Memórias da Cidade é mais do que um documentário: é um ato de resistência e de amor à memória brasileira. A produção foi realizada por meio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), programa do Governo Federal voltado à valorização da cultura e do patrimônio histórico.

“Preservar a Fazenda Pilão D’Água é preservar a nós mesmos: nossas origens, nossas feridas e a riqueza cultural que nos define como povo”, afirma Adriano Vaz.

 

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