Historiador convida Piraju a refletir sobre sua verdadeira história escravista
O historiador João Paulo da Silva Oliveira, descendente de um dos fundadores de Tejupá e integrante do Instituto Histórico Cultural e Genealógico do Sudoeste Paulista, esteve na redação da Folha de Piraju na última terça-feira para divulgar ações do Instituto e esclarecer um tema recorrente na história local: a ideia de que Piraju teria abolido a escravidão antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.
Segundo ele, essa versão é um mito romântico bem construído e repetido ao longo do tempo, mas sem base documental. João Paulo explica que, embora haja um registro de que a Câmara Municipal da época — então com o nome de São Sebastião do Tijuco Preto — criou uma comissão para discutir os impactos da abolição, isso não significa que o município tenha antecipado a liberdade dos escravizados. A comissão demonstra, na verdade, a preocupação econômica dos senhores de terras, políticos e fazendeiros locais, já que a escravidão era base significativa da economia pirajuense naquele período.
“Muito se fala sobre Piraju ter sido pioneira, mas isso é um mito. O que de fato aconteceu foi a criação de uma comissão interna na Câmara para estudar os reflexos econômicos e sociais da abolição. Isso mostra como Piraju enxergava a escravidão: como estrutura essencial da produção local”, afirma João.
Piraju, assim como o restante do país, era uma sociedade escravocrata. Embora o Censo de 1872 indique um número relativamente menor de pessoas escravizadas em comparação a outras regiões, os registros comprovam a existência da escravidão no município. Documentos da época, como inventários e registros de compra e venda, mostram que pessoas escravizadas eram listadas como parte dos bens das famílias locais, ao lado de bens imóveis e animais. João Paulo destaca que, por serem tratadas como propriedade, esses registros eram feitos no cartório de terras, onde as pessoas escravizadas constavam como se fossem bens patrimoniais. Ele lembra que ainda hoje é possível encontrar referências desse tipo em documentos antigos, especialmente em processos de herança.
O historiador reforça que Piraju mantinha uma estrutura social e econômica fundada na escravidão. A mão de obra dos escravizados era amplamente utilizada na região, desde o cultivo de lavouras e a criação de gado até o desbravamento de matas e abertura de caminhos, numa época em que boa parte do território ainda era coberta por vegetação nativa.
A herança escravista de Piraju existe e precisa ser reconhecida com responsabilidade histórica. A fala de João Paulo contribui para romper com versões idealizadas do passado e reforça a importância de compreender por que o combate ao preconceito e à desigualdade deve ser encarado com firmeza e consciência.