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A abertura da 12ª Semana Ataliba Leonel, realizada em 27 de outubro último, na Loja Maçônica Cavaleiros do Sul, marcou o sesquicentenário de nascimento desse mito político regional e reuniu convidados de Piraju e da região para a palestra do historiador avareense Gesiel Júnior. Ele contou que nasceu em Águas de Santa Bárbara, cidade cuja avenida principal leva o nome de Ataliba Leonel, um detalhe simbólico que reforçou a presença do líder no território paulista.

A conferência usou a imagem do jequitibá — árvore monumental, de raiz profunda e resistência impressionante — para caracterizar Ataliba Leonel. A metáfora, citada por cronistas da época, descreve a força e a longevidade de um político que atravessou décadas de debates, conflitos e reorganizações institucionais, mantendo influência direta na vida pública de Piraju e do interior paulista.

A palestra marcou o sesquicentenário de nascimento do líder e apresentou, com base em documentos, genealogias e registros históricos, a formação familiar de Ataliba. O pai, Major Mariano Leonel Ferreira, adquiriu terras em Piraju quando o café dominava a economia regional. Do lado paterno, a família Leonel tinha presença na política imperial e na literatura paulista; do lado materno, os Rolim — ainda influentes em Itapetininga — somavam nomes eleitos para a Assembleia Provincial.

Alfabetizado em Fartura, incentivado pela mãe, Francisca Carolina Rolim, a dona Chiquinha, Ataliba estudou em instituições de referência no início da República: o Seminário Episcopal, o Colégio Ateneu Paulista e, mais tarde, a Faculdade Livre de Ouro Preto, onde cursou Direito. Reconheceu o diploma na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1896, conforme apontam registros do historiador Celso Prado.

De volta aos cafezais de Piraju, casou-se aos 22 anos com a prima Francisca Leonel de Barros, com quem teve cinco filhos. Em 1898 foi eleito vereador e presidente da Câmara Municipal de Piraju; reelegeu-se em 1901. Em 1904 acumulou a vereança com o mandato de deputado estadual, iniciando uma trajetória de 35 anos que o colocaria entre as figuras políticas mais influentes da República Velha. Em 1924 conquistou o cargo de senador estadual — hoje inexistente — com votação recorde superior a 113 mil votos.

A mediação política de Ataliba foi decisiva em avanços que moldaram Piraju no início do século XX. Ele articulou a chegada da Estrada de Ferro Sorocabana pelo ramal Manduri–Piraju, obteve recursos estaduais para a construção da cadeia pública e do fórum e interveio na criação da primeira escola pública, inaugurada em 1913 e que, desde 1938, leva seu nome. A energia elétrica, implantada precocemente em Piraju, também contou com sua atuação. A modernização atraiu a instalação de telefones públicos e impulsionou a criação do Cassino Pirajuense, ampliando a vida cultural da cidade.

Em 1913, Piraju recebeu a visita da expedição liderada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt e por seu filho Kermit. A comitiva cruzou o Vale do Paranapanema e realizou conferência no Colégio Ateneu Paulista, episódio registrado em fotografias, jornais e relatos preservados.

Gesiel organizou também as conexões familiares que ligam Ataliba a nomes importantes da região. Entre eles está Paulo Dias Novaes, o Doutor Paulinho, de Avaré, identificado nas pesquisas como seu parente. A genealogia reúne Santa Bárbara, Itapetininga, Piraju e famílias tradicionais como Dias Baptista, Nunes Vieira e Leonel.

Na vida pública, Ataliba articulou pacificações políticas, liderou debates, presidiu comissões e integrou redes que cruzavam a República Velha. Foi maçom atuante, fundador e primeiro presidente da Loja Cavaleiros do Sul. Liderou tropas em movimentos revolucionários, presidiu a Legião Paulista e recebeu, por decreto de Artur Bernardes, o título honorífico de general. Comandou a Brigada Sul na Revolução Constitucionalista de 1932, foi derrotado, preso no Rio de Janeiro e deportado para Portugal, onde teve a saúde comprometida.

Retornou ao Brasil em 1933, mas divergências internas o afastaram da sucessão paulista. Recolheu-se à Fazenda Santa Maria, em Piraju, onde morreu aos 59 anos, em 29 de outubro de 1934.

A memória do político espalha-se pelo mapa brasileiro. Piraju preserva o Largo da Matriz com seu nome, a antiga estação ferroviária do ramal de Piraju e a Escola Estadual Ataliba Leonel. Outras cidades também o homenageiam: Avaré, Botucatu, Santo Anastácio, Ourinhos, Taquarituba, Iaras, Rancharia, Paraguaçu Paulista, São Vicente, Peruíbe, Cerqueira César, Maracaí e Carapicuíba. Em São Paulo, a Avenida General Ataliba Leonel interliga bairros como Santana, Parada Inglesa, Tucuruvi e Vila Guilherme, endereço onde funcionaram os primeiros estúdios do SBT, de Silvio Santos.

Até mesmo Carlópolis, no Paraná, batizou uma via central com seu nome.

Ao encerrar a palestra, Gesiel evocou a imagem registrada em 1934 pelo cronista Percival de Oliveira, que conviveu com Ataliba no exílio em Portugal: o político caiu “como a velha árvore, num baque, todo inteiro”. Como o jequitibá, deixou raízes profundas, sombra larga e um vácuo impossível de preencher. E permaneceu — como permanece — na memória de sua gente.

Nota da Redação
O registro apresentado nesta reportagem integra um esforço contínuo da Folha de Piraju de documentar a história local sempre que possível. Nem sempre os acontecimentos podem ser publicados no momento em que ocorrem, porque muitas vezes exigem tempo para organizar informações, consultar fontes e reunir dados até a finalização. Este material faz parte desse trabalho de registros que ajudam a compreender a formação cultural e política de Piraju e de toda a região. Neste material usamos fotos de Ataliba Leonel do Acervo Histórico de Piraju, mas recuperadas e coloridas pela coluna do Facebook "Piraju sua História e sua Gente" do professor pirajuense Antonio Alves da Fonseca que fez uma série de publicações sobre Ataliba Leonel durante o evento que comemorou o sequicentenário do seu nascimento.