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Fonsecão, por Carlinhos Barreiros

Postado à, 481 dias atrás | 5 minutos de leitura

Fonsecão, por Carlinhos Barreiros
Ultimamente, vinha me acostumando a tratá-lo assim: Fonsecão. Nem sei se ele gostava ou não. Mais fácil (e curto) do que chamá-lo pelo nome de batismo: Márcio Antonio da Fonseca e Silva. Ufa! De tão comprido, parece até nome de rei. Ou de imperador. Meu cunhado, falecido no último domingo, 27 de novembro de 2022.  
Conheci-o quando ele ficou com a minha irmã e logo depois se casaram, em São Paulo. Cerimônia discreta e íntima para um círculo pequeno de amigos que gostava do casal. Fui padrinho na cerimônia, pasmem. Ao que me lembre foi a última vez na vida que calcei sapatos. Que foram logo para a lata de lixo, findo o evento. 
Homem de maneiras afidalgadas e educação impecável em Recife, Pernambuco, provinha de uma longa linhagem de recifenses ilustres. Logo formou-se em Farmácia e Medicina ao mesmo tempo, daí o doutor antes do nome. Fez Exército quando novinho, ocasião em que costumava posar de farda e galão, tipo autoridade, ou de regata branca ao lado de uma moto preta (bem gatinho). 
As excepcionais recomendações de sua formação não tardaram a conduzi-lo ao sucesso profissional: de mudança para São Paulo, onde passou a residir, foi logo inundado por cascatas de convites para que exercesse sua competência de altíssimo nível: um estudo seu, sobre a Leishmaniose, teve repercussão e aval internacional,  granjeando-lhe reconhecimento mundial. Por esse trabalho, recebeu convite especial do Rei da Espanha para conhecer o país e proferir palestras, tarefas das quais se desincumbiu com o desembaraço low profile de sempre.
Homem de coração de ouro, cuja humanidade sempre foi maior que sua vida, alerta, irônico, engraçado e divertido, trabalhou vários anos (junto com os doutores de Avaré, Paulo Novaes e depois seu grande amigo, Francisco Novaes, o “Chiquinho”) no Hospital do Servidor Público em São Paulo, no Ibirapuera, onde fez amizades que perduraram até sua morte. Muito atuante em sua especialidade maior, a Farmácia, fez parte das maiores associações nacionais da área, sempre cercado por respeito e reverência. Até alguns anos atrás, dirigia-se regularmente até Brasília, convidado que era para palestrar sobre os temas que sempre lhe foram tão caros. 
Aposentado, junto à esposa, resolveu mudar-se para Piraju, cidade que adorava. Não se cansava de cantar as belezas naturais e a vida pacífica da Estância, afirmando, como Cidadão do Mundo que era, que as paisagens locais faziam frente aos mais belos cartões postais do mundo. Adaptou-se tão bem ao modo de viver da “terrinha” que minha irmã chegava a considerá-lo muito mais pirajuense do que ela própria. Por aqui, nos oito anos que passou entre nós, granjeou grandes e sinceras amizades, que estiveram com ele até o seu final. 
Colaborador ocasional da mídia local, estava prestes a iniciar uma colaboração semanal com a Folha de Piraju on line, veículo que sempre lhe foi caro pela imparcialidade das matérias e o carinho com que sempre o tratou. A homenagem que a Loja Maçônica local, a “Cavalheiros do Sul” lhe prestou, velando seu corpo no recinto dá bem uma ideia da grandiosidade moral e profissional do dr. Márcio Antonio da Fonseca e Silva, meu Fonsecão, cunhado e grande amigo.
 
 
 
 
 
 
 
 
• Carlinhos Barreiros ,o autor é professor, jornalista e escritor. Atuou em Piraju nos jornais “Folha de Piraju”, “Observador” e “Jornal da Cidade” sempre como cronista ou crítico de cinema/literatura. Publicou o livro de contos “Insânia: O lado Escuro da Lua” (esgotado). Em 2006 foi o primeiro colocado no Concurso de Poesias, contos e Crônicas da FAFIP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Piraju) com o conto Sade do Sertão. Atualmente, revisa os originais de seu livro de contos ainda inédito “Freak Show”. Mora em Piraju onde eventualmente contribui com a imprensa local.