11h33 | 26 de abril de 2024
contato@folhadepiraju.comSalve Aldir Blanc!
(para meus alunos, sempre).
A morte de Aldir Blanc esta semana (04/05/2020), encerra sua vida, mas não encerra sua memória.
No Rio de Janeiro, amigos o homenagearam pela janela de seus apartamentos no meio dessa pandemia que o levou sem aviso prévio. Nas palavras de João Bosco, seu parceiro em composições históricas...”Não existe João sem Aldir”.
Nos anos da ditadura militar brasileira (1964-1985), artistas e compositores, como a dupla João Bosco e Aldir Blanc cumpriram o papel de verdadeiros cronistas da história do país. Uma de suas composições mais comoventes está escrita na letra da música “O bêbado e a equilibrista”, eternizada na voz de Elis Regina. Editada em 1979, a música se tornou um verdadeiro hino de todos os brasileiros que ansiavam pelo fim da censura e, enfim, a volta da democracia. Cantava, principalmente, a esperança do retorno dos exilados políticos. Falava da dor das “Marias e “Clarices”. A censura prévia parece não ter percebido que Clarice era o nome da mulher do Jornalista Wladimir Herzog, torturado e morto no DOI-COD em São Paulo (1975).
Lembro-me de ter me apropriado também de seu talento para ilustrar com sua música “O mestre sala dos mares”, a Revolta da Chibata (1910) ocorrida no Rio de Janeiro, no governo de General Hermes da Fonseca. A letra da música denuncia os maus tratos a que eram submetidos os marinheiros de então, alguns recrutados a força. Era matéria de vestibular da FUVEST. Enaltecia seu líder João Cândido das Neves, chamado “O navegante negro”. No final a música tem um verso histórico: “Glória a todas as lutas inglórias, que através da nossa história não esqueceremos jamais. Salve o navegante negro que tem por monumento as pedras pisadas no cais”.
Termino citando João Bosco: “Perco o maior amigo, mas ganho nesse mar de tristezas uma razão para viver. Quero cantar nossas canções até onde tiver forças.”