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Voltar PASSA UM FILME  crônica de Jose Carlos Santos Peres

14/AGO - 14
AGO
PASSA UM FILME crônica de Jose Carlos Santos Peres

Zecão e Costela deixam duas de vinte debaixo de uma das garrafas; a moça passa pano úmido na mesa de pernas bambas para desfazer os círculos cicatrizados, antes de voltar com moedas para o troco. 
Uma mosca gira e insiste; insiste e gira. Insiste... Zecão sorri num quase-não, acompanhando aquele voejar sem eixo: 
- Há uma cena no Era uma Vez no Oeste com o Jack Elam que captura uma mosca: um dos momentos cômicos na abertura do filme. 
Chove uma porcaria de nada, mas lá pelo alto do bairro algumas nuvens se fazem rechonchudas. Vem das grandes, diz Dos Reis, vindo de algum lugar com seus característicos passos apressados. 
Na esquina da Caixa Federal Dos Reis parece se lembrar de alguma coisa e retorna: no bar para o Marlboro, de caixinha. Da mesma idade daqueles, qualquer coisa nos sessenta; jogaram juntos num dos campeonatos de férias da Associação. Zecão, pivô; Costela, ala; dos Reis, banco.
Costela estica o olhar ao Santa Cruz, em demolição: Cine Paradiso não é mera coincidência, que este tem sido o destino dos cinemas no Brasil. Fala do filme do Giuseppe Tornatore, consultando as garrafas vazias e tomando do último palito enroscado na muçarela. 
O passado joga dados à mesa:
- Primeira vez com Isabel, no pullman... Noviça Rebelde, com a Julie Andrews. Bel gostava de drops Dulcora, hortelã; eu, tangerina.  
Dos Reis, agora sem tanta pressa:
- E você, Zecão? Primeiro filme?
- Burt Reynolds... Faroestão da porra! 
De repente um trovejar desconcerta o espaço. Todos se entreolham, antes de tomarem por seus caminhos.  
A moça do pano úmido recolhe garrafas, mesa e cadeiras... A poeira dos escombros da obra se desmancha na chuva que escurece a tarde.
( Cine Santa Cruz, em Avaré; hoje, sede do INSS)