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Voltar LULA, A ONÇA E OS POBRES, por Carlinhos Barreiros

27/JAN - 27
JAN
LULA, A ONÇA E OS POBRES, por Carlinhos Barreiros

Um dos chistes preferidos da direita brasileira é este: quem gosta de pobre é onça pintada e o Lula. Não vou opinar com relação aos gostos alimentares de dona Onça (afinal, pobre deve ter só osso e pelanca na hora de se comer) mas Lula sim: este continua ensimesmado pelos pobres. Tanto que subiu a rampa, no dia da posse, com um monte deles. 
Tenho visto e ouvido algumas entrevistas do senhor presidente, inclusive uma recente que ele deu à jornalista do Globo News, Natusa Nery: é inegável que o apego de Lula às classes desfavorecidas desta nação continua imbatível. Lula até cansa de vez em quando, já que o discurso esquerdista pró-pobre é sempre o mesmo: inclusão, combate à fome e bolsas-auxílio. Como ele já fez tudo isso em seus mandatos anteriores, desta vez, se os escombros bolsonaristas permitirem, quer repetir a dose.
Mas Lula falou uma coisa engraçada outro dia: que neste país tem gente ganhando 6 mil reais por mês e se achando rica. O presidente, muito elegante, não falou abertamente, mas estava implícito na afirmação que essa gente é pobre, mesmo com 6 mil no bolso todo início de mês. Pensei então na classe a que pertenço, a dos professores, uma das mais desgraçadas e injustiçadas deste país e para quem seis mil por mês é simplesmente utópico. Professores - que reza a lenda- já tiveram salários semelhantes ao dos juízes (eu nunca vivi isso, só se for juiz de futebol da terceira divisão) agora estão lá embaixo na escala social. Faz tempo. Faxineira ganha mais que professor. Motoboy ganha mais que professor. Meia-Colher (ajudantes de pedreiro) ganha mais que professor. Entregador de pizza ganha mais que professor. Todo mundo ganha mais que professor. E pensar que ainda tem gente que faz Pedagogia para depois dar aula!
Grande parte desse panorama trágico e irreversível, pelo menos aqui no estado de São Paulo, deve-se ao partido do vice-presidente de Lula, o PSDB. Geraldo Alckmin, enquanto governador pela sigla, ajudou a cavar mais funda a cova dos professores, antecedido pelos abomináveis Mário Covas, Orestes Quércia e outros que nem vale a pena nomear aqui. Que o vento se encarregue de levar seus nomes para bem longe.
Enquanto governador de São Paulo, Alckmin recebeu do humorista Zé Simão, em sua coluna no jornal Folha de São Paulo o carinhoso (e cáustico) apelido de “Picolé de Xuxu”, tamanha a sua apatia e falta de carisma. Depois que virou vice de Lula e subiu a rampa com os pobres, nunca mais vi ninguém chamá-lo de picolé de xuxu na mídia, escrita ou falada. Medo? Puxa-saquice? Censura? Ou será que Geraldo, da noite para o dia, virou picolé de pimenta? Duvido. Mas que ele não gosta de professores é um fato inegável, vice ou não. Por outro lado, e estranhamente, quem acabou valorizando os professores com a reavaliação anual do piso nacional para a classe foi o Voldemort, ops, o ex-presidente fujão  Bolsonaro. O capitão é simpático à classe ? Hum ... sei não. Mas todos os estados da federação tiveram que ajustar-se aos decretos dele com relação ao dindim dos sacrossantos mestres, inclusive um último, do seu final de mandato e que deverá começar a ser pago ainda no primeiro semestre deste ano. 
Em “Que Horas Ela Volta?” a filha da empregada passa no vestibular para a faculdade e o filho da patroa não. Os pobres que subiram a rampa com Lula e os infelizes professores agradecem a essa simpática fábula. Já com relação a dona Onça, abstenho-me de pronunciar.                        
 
• O autor é professor,
jornalista e escritor. Atuou
em Piraju nos jornais “Folha de Piraju”,  “observador” e
“Jornal da Cidade” sempre
como cronista ou crítico
de cinema/literatura.
Publicou o livro de contos
“Insânia: O lado Escuro da
Lua” (esgotado). Em 2006
foi o primeiro colocado
no Concurso de Poesias,
contos e Crônicas da FAFIP (Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Piraju) com o conto Sade do Sertão. Atualmente, revisa
os originais de seu livro de
contos ainda inédito “Freak Show”. Mora em Piraju onde eventualmente contribui com a imprensa local.