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Jorge Dúlio Lima Menezes é o artista mais original da música brasileira. Criado no centro do Rio de Janeiro, tinha o sonho de ser jogador de futebol, mas foi na música que encontrou seu talento. Logo aos 18 anos, o carioca encantava o Brasil com o LP "Samba Esquema Novo", lançado em 1963 sob o nome artístico de Jorge Ben. O disco trazia uma nova batida de violão, mesclando samba com rock and roll. A faixa número um, "Mas que nada", foi um grande sucesso na época e, até hoje, é uma das músicas brasileiras mais reproduzidas no exterior. As faixas "Chove chuva" e "Por causa de você menina" também tiveram grande destaque. 

 

Durante a década de 60 e início da década de 70, Jorge Ben continuou embalando o Brasil compondo dois dos grandes sucessos da época: "País tropical", gravada inicialmente por Wilson Simonal em 1969, e "Fio maravilha", vencedora do Festival Internacional Canção Popular em 1972 com a interpretação de Maria Alcinda. Até hoje as duas canções são reproduzidas com frequência. A primeira é presença obrigatória em qualquer festa de carnaval, e a segunda é cantada por torcidas de vários times de futebol nos estádios Brasil afora. 

 

A obra de Jorge Ben possui características marcantes como a união dos elementos de diversos gêneros musicais ao samba, que resultam em arranjos únicos e incríveis, e a facilidade do artista em tirar suas letras de coisas simples do cotidiano, que são combinadas à melodias contagiantes e imprevisíveis. Nos anos iniciais de sua carreira, Jorge Ben cantou a alegria, o amor e o Brasil, sempre com descontração e bom humor. Outros nove álbuns foram lançados após "Samba Esquema Novo", e o grande ponto de virada na sua carreira veio em 1974. 

 

As décadas de 60 e 70 foram marcadas por uma grande busca sobre conhecimentos místicos e esotéricos e debates sobre astrologia e ufologia, que influenciaram a música na época. Os Beatles passaram os primeiros meses de 1968 na Índia, e é evidente a influência da espiritualidade oriental em algumas canções de "White Album" de "Abbey Road". No Brasil, a "fase racional" de Tim Maia se iniciou em 1974 com o a gravações dos álbuns "Tim Maia Racional, Vol. 1"e "Tim Maia Racional, Vol.2", cujas canções enalteciam a seita Cultura Racional, fundada pelo médium Manoel Jacintho Coelho. Também nos anos 70, o cantor e compositor Raul Seixas vendeu mais de 300 mil discos, nos quais a maioria das canções abordava temas como Thelema e ocultismo. Jorge Ben sempre foi estudioso das ciências ocultas, e percebendo que o assunto estava em voga, viu uma boa oportunidade para falar sobre isso em suas músicas. 

 

Em 1974 é gravado e lançado o LP "A Tábua da Esmeralda", o décimo primeiro álbum de estúdio de Jorge Ben. O disco é considerado por muitos especialistas como um dos melhores, se não o melhor da música brasileira. As doze faixas do álbum possuem arranjos de extrema riqueza e letras belíssimas e reflexivas que ficam ainda melhores com a excelente interpretação de Jorge e de seus instrumentistas e backing vocals. "A Tábua de Esmeralda" marcou o início da "alquimia musical" na carreira de Jorge Ben. 

 

Não só Hermes Trismegisto é cantado por Jorge Ben em "A Tábua de Esmeralda". Jesus Cristo, os alquimistas Paracelso e Nicolas Flamel, o escritor suíço Erich von Däniken (autor do livro "Eram os Deuses Astronautas?"), o herói Zumbi dos Palmares e o saxofonista argentino Gato Barbieri também foram citados em canções do disco. Como em todos os discos do artista, o romantismo e a exaltação da mulher não ficaram de lado, marcando presença nas faixas "Menina mulher da pele preta" e "Minha teimosia, uma arma pra te conquistar". 

 

 

A Tábua de Esmeralda é o texto que possivelmente deu origem à toda Filosofia Hermética. Atribui-se sua escrita a Hermes Trismegisto, uma figura mítica descrita como o sincretismo entre o deus egípcio Thoth e o deus grego Hermes, que representa toda a sabedoria acumulada pelos egípcios ao longo dos anos. A Tábua de Esmeralda sintetiza em treze aforismos toda a tradição mística do Egito e influenciou obras religiosas e filosóficas no Ocidente e no Oriente, além de resumir as principais ideias da Alquimia. Por milhares de anos a Filosofia Hermética foi estudada por um grupo restrito de pessoas, como os alquimistas medievais e as Ordens Iniciáticas. Em 1908 um livro chamado Kybalion, publicado sob o pseudônimo de "Os Três iniciados", esquematizou os princípios herméticos em sete máximas e os levou a conhecimento público. 

 

Quando ouvi "A Tábua de Esmeralda" de Jorge Ben pela primeira vez, uma grande mudança aconteceu na minha vida. Junto com um dos grandes álbuns da história da música popular brasileira, encontrei a porta para novos conhecimentos, que me foi apresentada por meio daquilo que mais amo. Entender tudo o que escutei no disco é uma tarefa que durará até o fim da minha vida, mas que já está me fazendo crescer em todos os aspectos enquanto ser humano. Um dos objetivos da alquimia era encontrar a pedra filosofal, objeto que teria o poder de transformar metais inferiores em ouro. Tal ideia na verdade é uma metáfora para uma mudança de consciência. Jorge Ben (hoje Jorge Ben Jor) agiu como pedra filosofal na minha vida, pois fez com que eu começasse a me desprender das tradições europeias e ansiasse por novos conhecimentos, coisa que dificilmente teria acontecido caso eu não tivesse ouvido este glorioso disco.