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Voltar Acessar a Gratidão, por Janny Vargas

06/JAN - 06
JAN
Acessar a Gratidão, por Janny Vargas

No isolamento não há o Outro de fora... Tem os Outros de dentro, os da família, aqueles corporalmente perto e raramente o Outro de fora, só quando vc vai no mercado ou olha pela janela.
O Outro de fora dos filmes, da TV, não contam para o que vou dizer:
Não tendo Outro de fora começa, com o tempo, a parecer que ele não existe. Não posso senti-lo com os sentidos, só posso concebê-lo na mente.
E na minha mente posso fazer dele o que quiser, com facilidade. Ele pode virar meu algoz, meu objeto de raiva ou amor, de inveja, muitos etc...
Isso já acontece no dia a dia ao qual estávamos acostumados. Eu já fazia do Outro tudo isso, mas era difícil dar conta de que era eu que estava fazendo, afinal ele estava ali sob meus olhos, tinha dito isso ou aquilo. Eu tinha provas! Achava que tinha.
No isolamento, não tendo o Outro, estou com tudo ali nas minhas mãos. Estou comigo nas mãos.
Não dá para ir a padaria tomar uma coca para me distrair, não dá para me jogar em outros contatos para dividir a carga.
Tô eu e eu.
Bom para sacar o que carrego, qual é minha lente.
Ruim porque se o Outro não existe, começo a ficar insensível em relação a realidade de que tem gente sofrendo e que talvez eu possa fazer algo para aliviar.
Me embriago de mim...
O problema disso é que se estou carregando muita dor, essa dor que eu não percebia porque estava me distraindo, achando que era o Outro a causa, posso, agora com facilidade, me enganar achando que há algo errado comigo.
E no limite posso achar que preciso me livrar de mim para me livrar da dor.
É muito importante saber que Eu não sou minha dor, minha raiva, meu sofrimento. Meu corpo também não é.
O que está sofrendo é minha mente. Ela que dói.
São meus pensamentos não investigados, como diz Katie Byron. São minhas crenças, são as cicatrizes da infância, quando a gente não tinha ainda instrumentos para lidar com a confusão.
Desafiar as crenças. Tal pessoa é assim.
Como diz, de novo, Katie Byron: inverte. Tal pessoa é assim, inverte para Eu sou assim. E explora esse conceito, faz outras inversões. Explora.
Até que fique claro como não há nada fixo onde se apoiar.
São tudo abstrações feitas a partir de algo que já foi...
O que sobra? Sobra vc, eu, onde estamos já... nesse lugar vazio do presente. Vazio de conceitos, brilhante de potência.

Um lugar de paz, de não mente... Juro que existe.
Se vc estiver pensando em se matar porque não aguenta teu sofrimento, saiba que não é destruindo a vida pulsando no seu corpo que o sofrimento irá embora... talvez vá, talvez não vá, como saber, mas há outro caminho. Esse de entender que é tua mente a criadora e ela pode criar o que quiser.
O importante é não acreditar que seus pensamentos são vc. Que sua dor é vc. Muitas pessoas fizeram caminhos para fora dos pensamentos... Esses caminhos existem... procure por eles...
E... a graça de tudo: Existe essa energia linda linda chamada Amor... ela está na base de tudo, permeando tudo... e, me dizem, tem um jeito de acessar: é a gratidão.
Furar a terra árida da realidade sofrida e acessar esse lençol freático de amor... e dar de beber a todos... e assim se embriagar de amor e agradecer...
Fazer da Terra um lugar lindo... (ai, escrevi isso e me lembrei de que os índios - guardiões da Floresta - continuam sendo perseguidos, mortos - muito e impunemente atualmente, pelo que leio - para que o $ destrua a Floresta para alimentar o consumo que eu/ vc mantemos com nossos hábitos).

(ESTE ARTIGO FOI PUBLICADO EM ABRIL NA FOLHA DE PIRAJU EDIÇÃO IMPRESSA E REPUBLICAMOS AGORA PELO CONTEÚDO TOCANTE E A ABORDAGEM DA AUTORA/ AINDA MUITO ATUAL)