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Voltar A dor que me partiu, por José Carlos Santos Peres

15/MAI - 15
MAI
A dor que me partiu, por José Carlos Santos Peres

Alguém se interessa em saber qual a dor um dia habitou o corpo dos leitores de sua postagem na Rede Social. Lembrei-me de algumas, todas vindas lá de minha infância de bolas, rios, árvores e descaminhos.  Nada mais que um galho partido, a tampa do dedão numa pedra, um prego abandonado, um vidro camuflado.
Houve um galo e um peru e uma vaca, cada qual cuidando de sua cria; um raio desgovernado que por pouco não o tomei pelo rabo. Houve uma assombração numa madrugada que me percorreu o corpo e me fez desembestar deixando pedaços de pele pelos arames dos desvãos. 
Quando jogando na Ferroviária, após vencer na velocidade o zagueiro que me acompanhava (espécie de filho do vento que eu era), fui alcançado pelo calcanhar num toque que me projetou metros à frente. Caí Grudado no último cavaco do longo caminho que percorri.
E ao cair meu mundo veio junto, cheio de interrogações e medos e aquela angústia em saber qual seria a reação dos meus, em casa, ao saberem que aquela bola substituíra as aulas nas quais eu deveria me fazer, na Escola Industrial.
Com o braço todo torto, quebrado em dois lugares, fui conduzido por alguém – partindo do bar do Sossego, ao lado do antigo fórum – à Santa Casa. 
Atendido pelo Dr. Osvaldo Brito Benedetti vi duendes sobrevoando o teto, mula que perdeu a cabeça pastando o lustre...
Num átimo, o doutor encostou meu braço em seu peito; falou-me de coisas reconfortantes, afastando o meu olhar da realidade. E crau!. 
Houve um estalo... E o meu grito despertando as lagartixas escondidas pelas trincas da branca parede com o médico rindo, como um aditivo à cura: chamem um exorcista que a coisa ficou feia.
Quando retornei de um daqueles porões do Dante, o meu vizinho ocupante do leito ao lado já havia se curado de um coma alcoólico e partido em disparada pelo corredor onde se aglomeravam médicos e enfermeiras. 
Soube que as telhas da Santa Casa se desprenderam com o meu grito, as sondas se soltaram e todas as portas se fecharam. Até hoje, por um daqueles desvãos, em determinadas horas, meu grito ainda ecoa. Os mais atentos falam de um filhodaputa aleatório.
Foi um ajuste ósseo à sangue frio... Felizmente o meu braço ficou perfeito, graças ao talento do doutor que, para o serviço, nunca houve outro igual.
Mas, a partir daquele dia o vento perdeu seu filho.
 
 ► Nosso colunista é de Avaré funcionário de carreira da Sabesp e aqui escreve a convite do diretor da Folha José Elói que trabalhou com ele na empresa por muitos anos e juntos foram diretores do clube da Sabesp de Avaré. José Carlos é um  escritor já premiadíssimo e conhecido por suas crônicas.
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