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Voltar A CHUVA CAI... por José Carlos Santos Peres

13/JAN - 13
JAN
A CHUVA CAI... por José Carlos Santos Peres

Parado diante de uma página em branco. É preciso dizer alguma coisa, defender alguma tese, expor algum pensamento... 
Sou de silêncios, porém. 
Acostumei-me aos sons miúdos, a paz de dias como o de hoje em que é possível ouvir a chuva minguada tamborilando uma velha canção na janela. 
Cai bem Lupicínio. 
 Sou do nada a dizer; me guardo no quase escuro do escritório entre livros, velhos jornais e guardados que nem sei de suas utilidades. 
Às vezes a mulher chega à porta para me conferir, depois de forçar o ouvido em busca de algum som. Minha presença é uma constante ausência. Nada a ver com solidão, que me basto quando só.
O paradoxo está nesta necessidade de dizer alguma coisa, quando tudo em mim pede para nada dizer. Necessidade de ofício, essa, que se impõe. Tarefa, que não é ingrata, porque estimuladora, mas que, numa manhã sob chuva, gostaria de deixar na Prateleira do Depois.
Então me pergunto se é tão difícil assim cumprir com a tarefa sabendo que muitos, usando ferramentas bem mais pesadas, podem estar no desconforto do ar livre, sob esta mesma chuva a dar fio ao facão, que o eito de cana o espera para o minguado e sofrido salário do dia...
Egoístas, pensamos tão somente em nosso mundinho, nas questões pedestres que nos dizem respeito. Somos o nosso umbigo, as nossas necessidades. A derrota do nosso time já é suficiente para nos deixar de mal com a vida.
Deveríamos aprender com o entorno. Mas para tanto, desde cedo, desde a primeira carteira escolar, deveríamos ser educados para entender o mundo além dos limites do nosso olhar, sabendo-o bem maior que essas nossas dificuldades intelectuais, dessas nossas idiossincrasias, dessa maneira egoísta que cultivamos: a de apenas aceita-lo se o que ele, mundo, nos oferece for de graça.
Nem todos nascem Braga, Rui ou Cony... Não importa! Importa enfrentarmos as dificuldades que se impõem, seja um eito de cana para ser batido ou uma página em branco a ser preenchida, com a altivez necessária. Ou, como diria minha mãe, sem frescura.
 E cada um saber – diante de um notebook ou de uma lâmina de ceifar – que a chuva que cai, benfazeja como a de agora, a todos pertencem, à medida em que a nenhum de nós deve favores ou obrigações. Se a vejo como poesia ou se ao cortador ela parece ser um transtorno nada significa à ordem natural do universo. 
Deixemos de frescura, pois, e vamos à luta, cada um com o seu eito, que o dia tarda.
(* o autor se vê como cronista, mas se acovarda diante de um papel em branco. É jornalista, pelos anos de embocadura.  Mas quem não, hoje? Neste tempo de celular ligado e redes sociais ativadas?).