seja bem vindo ao portal folha de piraju

Circulação: Cidades e Regiões das Comarcas de Piraju, Santa Cruz do Rio Pardo, Ipaussu e Avaré

blog

Voltar A baderna, por Carlinhos Barreiros

10/JAN - 10
JAN
A baderna, por Carlinhos Barreiros

Vi a baderna dos bolsonaristas domingo passado, 8 de janeiro, quando Brasília pegou fogo. Uma turba raivosa usando a camisa da seleção ou uma bandeira brasileira sobre os ombros ou ao redor dos quadris estava completamente à vontade entre brados, urros, imprecações e vibratos. Era tanta gente que cheguei a temer pela República. Nunca antes, em meus anos de político espectador, assistira a tamanho espetáculo nauseante.   
A precariedade da Praça dos Três Poderes, entregue à sanha desvairada da multidão bolsonarista saltava à vista: parecia que tudo estava por um fio. Não se notava nem sombra de reação, por parte de pessoas de bem (aqui entendidas por polícia, forças armadas, exército ou o diabo a quatro, tanto faz. Vocês sabem do que estou falando). Os vândalos, em êxtase e inebriados pela façanha pecaminosa, pareciam não caber em si de felicidade: se pudessem rever-se hoje, à sombra de outra perspectiva e fossem feitos de um outro material menos nocivo, por certo cairiam em si e veriam o mico que estavam pagando. Ou o beco sem saída em que se meteram. Mas essa gente não tem a profundidade necessária para autorreflexões. Bestiais, chafurdavam-se nos próprios instintos primários. 
Qual touros bravios em loja de porcelana, adentraram Supremo Tribunal Federal, Palácio do Planalto e Congresso Nacional, destruindo tudo que estava no caminho. No quebra-quebra terrorista, acabou sobrando para painel de Di Cavalcanti (danificado), vidros, móveis, retratos de ex-presidentes,  cadeiras, poltronas e sofás, com direito às lentes e câmeras do fotógrafo oficial da presidência (surripiadas à socapa, no fervor dos acontecimentos). Gente sem eira nem beira e com toda a certeza sem berço também, esbaldava-se dentro desses sacrossantos edifícios, pilares da democracia em qualquer país civilizado, mostrando ao mundo que a falta de educação também pode ser coletiva. Idiotas brincavam de escorregar no Congresso devastado enquanto Seguidoras do Mito, de verde e amarelo, berravam à toda (felizmente não pude ouvir o que: com certeza “Mito” “Mito” “Mito” ou “Intervenção Já”) conforme faixa desdobrada em cima do Congresso por dois fanáticos do Jair e babadores de ovo das Forças Armadas.
Com a democracia por um fio, finalmente reação à vista: com bombas de fumaça e gás lacrimogêneo, depois com cachorros e cavalos, a polícia federal começa a pôr fim à baderna generalizada, com alguns fantoches de Bozo encarapitados na cúpula do congresso e a grande maioria na rampa, agora já em franca debandada. Com uma coragem pífia, inversamente proporcional à bravata que só parece funcionar em grupo, a horda foi logo se encolhendo e recuando, sendo tangida para a saída, qual lobos que bem depressinha haviam se transformado em cordeirinhos. 
Avessos ao regime democrático, influenciados por um lunático e seus seguidores, esses caçadores do comunismo (duvido que a maioria deles sequer saiba o que é isso), esses milhares de baderneiros  de Brasília, na tarde de 8 de janeiro de 2023, continuaram sua jornada patética até os ônibus que os trouxeram à capital do país, sem ter a menor ideia de que no dia seguinte seriam todos presos e enquadrados por vários delitos, comprovados pelas  selfies e filminhos via celular que eles mesmos fizeram, incriminando-se a si próprios. Seria cômico se não fosse trágico. 
Eu, de minha parte, quero desejar a eles e ao patrão fugitivo uma bela estadia atrás das grades. Democracia é bom e eu gosto.      
 
 
 
 
• O autor é professor,
jornalista e escritor. Atuou
em Piraju nos jornais “Folha de Piraju”,  “observador” e
“Jornal da Cidade” sempre
como cronista ou crítico
de cinema/literatura.
Publicou o livro de contos
“Insânia: O lado Escuro da
Lua” (esgotado). Em 2006
foi o primeiro colocado
no Concurso de Poesias,
contos e Crônicas da FAFIP (Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Piraju) com o conto Sade do Sertão. Atualmente, revisa
os originais de seu livro de
contos ainda inédito “Freak Show”. Mora em Piraju onde eventualmente contribui com a imprensa local.